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A Casa da Escrita e a necessidade de defender a cultura em Coimbra

Notícias recentes dão conta da transformação da Casa da Escrita numa “Casa da Cidadania da Língua”, tutelada por uma recém-constituída Associação Portugal Brasil 200 anos, presidida por José Manuel Diogo e que tem como presidente da Assembleia Geral João Gabriel Silva, irmão do atual presidente da Câmara Municipal de Coimbra. Os contornos do protocolo a estabelecer entre a Câmara e esta associação privada são desconhecidos. Desconhecido é também o futuro da Casa da Escrita, cuja existência parece encontrar-se em risco.

Esta situação é inquietante, sugerindo uma pulsão de captura de equipamentos públicos por estruturas privadas e revelando uma gestão pouco transparente da coisa pública. Mostra ainda a incapacidade do executivo municipal em ter uma política que não esteja presa aos chavões do empreendedorismo e da cultura como negócio ou pretexto publicitário.

A Concelhia do Bloco de Esquerda junta-se a outras vozes que têm manifestado preocupação e perplexidade com os destinos que se estão a desenhar para a Casa da Escrita. Instalada no coração da Alta de Coimbra, ligada à história do movimento neorrealista e albergando espólios relevantes, o investimento na Casa da Escrita deve ser feito respeitando a sua missão e aprofundando o papel daquele espaço na criação e fruição cultural e na dinamização do território. Menos do que isso é abdicar de ter uma política cultural assente na transparência, na acessibilidade e no caráter público da gestão dos equipamentos.