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Mariana defende que “há uma resposta política pública” para as casas vazias

Em Coimbra, no dia em que foi noticiado que há 250 mil casas vazias que não estão no mercado de arrendamento nem de venda, a coordenadora do Bloco criticou a política de “dar dinheiro às construtoras” para construir mais nos subúrbios em nome de soluções efetivas para os problemas da habitação que começam nas autarquias.

Mariana Mortágua encerrou este domingo o Fórum de Ideias e Propostas “Coimbra Mudar Mesmo”. Ao fazê-lo, lembrou que este decorreu sob o signo da utopia, da cidade e da mudança, uma “combinação feliz” já que “o neoliberalismo venceu porque, na verdade, nos impede de imaginar o futuro”. Este leva, defende, a uma uniformização, nomeadamente cultural e do pensamento, a uma conceção individualista da sociedade que nos impede de “pensar futuros diferentes” e à ideia de inevitabilidade porque apresenta “os interesses de uma pequena elite como os interesses nacionais”.

Para a coordenadora bloquista, nestes “tempos difíceis” é “preciso resistir”, “garantir que não nos tiram a base do que há e do que resta” mas igualmente imaginar e ter esperança. Neste sentido, as políticas autárquicas são “um espaço que hoje é mais importante do que nunca” porque permitem “começar pelo mais pequeno” nesse trabalho difícil de imaginar outras políticas.

E de entre as políticas autárquicas destacou o tema da habitação entregue ao mercado que “não resolve” os problemas. A este propósito, recordou as notícias do dia que dão conta de 723 mil casas vazias no país. 723 mil casas vazias no país, das quais 485 mil estão em condições de serem habitadas mas 250 mil delas não estão nem no mercado de arrendamento nem no mercado de venda. Estas situam-se no centro das cidades, ao mesmo tempo que se aposta em “dar dinheiro às construtoras” para construir mais nos subúrbios.

A resposta a isto começa por identificar as casas vazias e saber porque o estão, pois para cada situação “há uma resposta política pública”: “há uma resposta para os fundos de investimento, há uma resposta para os proprietários que não têm dinheiro para recuperar a sua casa, há uma resposta para as heranças que se arrastam há anos e há uma resposta para as casas municipais que estão vazias”. E estas “começam na política autárquica” também não aplicação do IMI agravado pelas casas devolutas “que muitos municípios não fazem porque estão pura e simplesmente reféns dos grandes proprietários imobiliários e das oligarquias”.

 

Pureza quer “romper a alternância sem alternativa”

Na mesma sessão, o cabeça de lista do Bloco à Câmara Municipal desta autarquia, José Manuel Pureza, defendeu que o partido participa neste ato eleitoral “em nome do dever de ser alternativa” ao rotativismo ao centro que “amarrou Coimbra ao mesmo modelo de todas as cidades sem alma e sem identidade do nosso tempo”, “destratou” o concelho e tornou-o “num cenário para turistas, num postal ilustrado antigamente misturado com hipermercados, uma fachada limpinha com pisarias em abundância e lojas de souvenirs de cortiça ou de azulejo, que são as mesmas pisarias e as mesmas lojas de souvenirs de cortiça ou de azulejo de outra cidade qualquer”.

Para ele, “nessa Coimbra dos turistas não cabem os pobres, atirados pelo executivo de José Manuel Silva para o novo gueto de habitação social em Taveiro”, “não cabem os dependentes de consumo de drogas atirados para as mãos de dealers sem escrúpulos nas esquinas da Baixa”, “não cabem os velhos sozinhos”.

Também o candidato bloquista a esta autarquia está preocupado com a habitação, destacando as 11 mil casas devolutas “num dos sítios do país onde é mais caro viver”. Culpa por isso os “donos de Coimbra” e “as oligarquiazinhas”, para além da direita que lhes dá voz e da “complacência” do PS.

Daí que o partido recuse “ser peça da alternância de sempre”, um “jogo a dois, em que ganham sempre os mesmos e perde sempre Coimbra” e queira romper com a governação municipal da direita que “tem sido um exercício penoso” de quem vê Coimbra como “um conjunto de clusters aptos para o apetite dos negócios” e “um palco para o circuito de mega-espetáculos”.