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Sou Alexis

A palavra autodeterminação já foi uma palavra com alta cotação. Os povos dominados pelo colonialismo europeu – que experimentaram na carne como os valores apregoadamente sagrados e eternos da Europa são negados à grande maioria do mundo – fizeram dessa palavra a maior bandeira da sua existência. E com essa palavra mudaram o mundo.
A luta pela autodeterminação dos povos é a luta da periferia subordinada contra o sufoco disciplinador e humilhante que lhes é imposto pelo centro que manda. Por isso mesmo foi tão fugaz a cotação alta da palavra autodeterminação. Ela durou o tempo de um sobressalto, de um vendaval. Com colonialismo formal ou sem ele, a colonialidade do poder do centro sobre as periferias reinventou-se e aí está para durar. É a essa colonialidade que dão hoje voz a Comissão Europeia e Angela Merkel. As suas ameaças grotescas ao povo da Grécia são a expressão dessa matriz colonial que nunca abandonou a visão que a Europa convencida de si sempre teve sobre as suas periferias, mais próximas ou mais longínquas.
Colonialidade e austeridade são palavras irmãs no mundo de quem manda. O que Merkel, Barroso ou Moscovici dizem com as suas ameaças contra os gregos é que a austeridade é a ferramenta da colonialidade. É a austeridade que perpetua o domínio das burguesias de Atenas ou de Lisboa sobre a Grécia e sobre Portugal e é ela que permite a Merkel dar ordens a ambas.
É por tudo isto que a força do Syriza apavora os mandantes da austeridade colonial. O que aprendemos com a luta dos povos colonizados pela sua autodeterminação foi que a arrogância do colonizador tem sempre o seu medo profundo como fundamento. O medo do diferente e, mais que tudo, o medo de deixar de mandar. Na Europa de hoje, quanto mais ameaça mais o centrão europeu mostra o seu medo e a sua fragilidade. O centrão das elites europeias sabe que basta um país que representa 2% do PIB comunitário dizer que não para que todo o regime da austeridade desmorone como um castelo de cartas. Por isso ameaça tanto. Por isso tem tanto medo. Digamo-lo com clareza nestes dias de chumbo: que verdadeiramente apavora o centrão europeu é a liberdade de expressão (eleitoral) dos gregos. Se pudesse silenciava-a.
É por tudo isto que a força de alternativa que é o Syriza é uma esperança tão grande para mim. E é também por tudo isto que eu, que sou José, e que sou Charlie e Ahmed, sou também Yanis, Dimitrios ou Angelos. Mas sobretudo Alexis, sobretudo Alexis.