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A quem serve o Diário de Coimbra?

A quem serve o Diário de Coimbra?

 

O Diário de Coimbra (DC), num texto publicado no passado dia 14 e transcrito nos congéneres (ou filiais), Diário de Aveiro (DA), Diário de Leiria (DL) e Diário de Viseu (DV), neste período pós-eleitoral em que várias soluções governativas, dentro do quadro constitucional, estão em debate na sociedade portuguesa, decidiu lembrar, aos seus leitores e ao público em geral, o seu estatuto editorial e explicitar o “posicionamento do jornal no atual momento político”. À partida, assume-se “ao serviço de Coimbra e da Região das Beiras”, afirma-se “defensor de causas que interessam às suas gentes” e diz partilhar dos valores europeus – “de democracia, de liberdade, de economia de mercado, de moeda única, de defesa comum, entre outros”.

Contudo, logo abaixo, sem se preocupar em respeitar, com o devido rigor, os princípios enunciados, dispara: “(…) estamos a assistir a uma aparente deriva esquerdista radical por parte do atual líder do Partido Socialista (…)” E, mais adiante, acrescenta: “(…) esperamos que impere o bom-senso no Partido Socialista, que esta associação perversa com a extrema esquerda não venha a concretizar-se.” Pelo meio, justifica todos os seus terrores, evocando os fantasmas que foi alimentando ao longo das últimas quatro décadas e que lhe servem agora para aprovar, sustentar e aplaudir uma fórmula política e uma realização governativa que, nos últimos quatro anos, provocaram os estragos na economia (de mercado) e na sociedade portuguesa, com fortes limitações da democracia, da liberdade e da dignidade dos cidadãos e cidadãs, que os relatórios de entidades independentes e as declarações de vários especialistas têm vindo a divulgar.

Este texto do DC serve, de forma clara, para explicitar, não tanto o seu estatuto editorial, que já conhecíamos e que respeitamos, mas a opção eleitoral dos seus proprietários e diretores nestas eleições, a qual é coerente, reconheçamos, com a fórmula governativa da sua preferência e a rejeição tão acirrada do cenário “tão negativo para o País”, que, segundo ameaça, “não deixará de combater (…) se o mesmo vier a concretizar-se.” Contudo, ao proferir estes vitupérios, o DC, no seu texto, parece não se dar conta de que está, de facto, a ofender e a intimidar muitas gentes de Coimbra e da sua região. Para nos referirmos só ao distrito de Coimbra (a nossa região é muito mais ampla), esse universo envolve, pelo menos, os e as votantes no PS (77 684 – 35,28%), no BE (21 780 – 9,89%) e na CDU (15 476 – 7,03%), ou seja um total de 114 940 votantes, a que correspondem 52,20% dos votos válidos expressos.

São esses cidadãos e cidadãs que o DC quer desqualificar, ameaçar e remeter para as zonas sombrias dos fantasmas com que persiste conviver. São esses cidadãos e cidadãs que, em nome da democracia e da liberdade, estão no direito de lhe exigir desculpas públicas. O Bloco de Esquerda está ao seu lado.

 

Coimbra, 16 de Outubro de 2015

Coordenadora Distrital do Bloco de Esquerda