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O cheque inglês

Relataram-me que os jogadores britânicos do torneio de râguebi de praia animaram o Bairro Novo, beberam múltiplos barris de cerveja e pagaram contas de alguns euros com notas de 20 e de 50 euros sem aceitar troco de volta. Aqui a cerveja é quase borla para eles. Não tenho nada contra o sucedido, exceto que gostaria de viver numa união de países onde não existisse esta disparidade de nível de vida. E esta disparidade já foi menor.
Em 1984, o RU (Reino Unido) passava por dificuldades financeiras. Nessa altura Margaret Thatcher era primeira ministra e a solidariedade europeia funcionou. Dado que uma parte do orçamento europeu era investido na PAC (Política Agrícola Comum) e o RU pouco beneficiava da PAC foi decidido reduzir temporariamente a sua contribuição para o orçamento europeu através do chamado Cheque Inglês. Este cheque tem sido pago pelos restantes países da UE, entre os quais Portugal e a Grécia. A França é quem mais paga.
Atualmente, o Cheque Inglês é de cerca de 4 mil milhões de euros e, tudo somado, os britânicos receberam, desde 1984, dos restantes países uma quantia próxima da ajuda à Grécia. Curiosamente, o primeiro-ministro britânico David Cameron recusou recentemente solidariedade à Grécia, quando 10% PIB do RU resulta de operações financeiras da City, a mesma City que escapa à legislação europeia sobre paraísos fiscais. A memória não deveria ser curta.