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Não há lojas de brinquedos

Nos anos 80, a loja Isaac, na Rua da República, exibia uma montra de brinquedos de fazer saltar os olhos das órbitas de qualquer pequeno. Ficávamos ali vidrados a analisar brinquedo a brinquedo de nariz colado à montra, a tal ponto que o próprio Isaac vigiava a vitrina com ar incomodado, mas nunca nos dizia nada. 

O Bazar 101 era a nossa outra caverna de Ali Babá. Ali organizavam concursos de construções de Lego que desencadeavam rivalidades levadas muito à séria entre a malta. Estas lojas especializadas tinham uma dinâmica própria. Os empregados conheciam bem os brinquedos, os expostos e os que só apareciam nos catálogos. 

Construía-se uma rede cultural juvenil muito interessante em torno de alguns jogos de sociedade bem conseguidos. O desaparecimento destas lojas tornou mais triste a escolha daquele brinquedo que vai fazer alguém feliz. 

O excesso de oferta de grandes superfícies, das suas promoções à margem da legalidade, dos salários baixos e da redução de pessoal especializado secaram tudo à volta e tornaram quase obrigatória a compra de um brinquedo num supermercado. 

Não sou um adepto do “dantes é que era bom”, mas sabemos que não foi assim em Itália onde o comércio tradicional e as lojas especializadas resistem muito bem a este fenómeno. Há que aprender com estes exemplos e refletir para termos um comércio que ajude a distribuir e não a secar.