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Mete a colher!

Ao contrário do que foi insinuado neste jornal, na coluna de 4 de março de Santana-Maia Leonardo, a criação do crime de violência doméstica não fez “disparar o número de mortes” e não “é natural que o caso acabe no cemitério”, quando terceiros tentam defender e proteger as vítimas. Talvez seja natural na Arábia Saudita ou no Estado Islâmico, mas em democracia isso não é natural: é violento, é criminoso e é troglodita.
É falso que o número de mortes disparou, desde 2000, quando a violência doméstica passou a ser crime público. Os dados estão disponíveis, desde 2004, e não mostram uma tendência crescente entre 2004 e 2014. O pior ano foi o de 2008, com 46 mortes, mas em 2009 foram 29. A média, desde 2004, é de 36 mortes. Em 2013, foram 37 e, em 2014, foram 42. Em ambos os casos estamos dentro do intervalo de desvio padrão, que é 36 +/- 7.
Peço desculpa aos leitores por este exercício quase mórbido baseado na estatística de pessoas assassinadas em episódios de violência doméstica, mas a estatística a olhómetro sem fundamentação e a sociologia de pacotilha que foi debitada na citada coluna merece ser denunciada. Há indicadores nacionais e internacionais com mais estatística (participações, agressões, etc.), que demonstram a dependência da violência doméstica das crises económicas, mas há sempre quem esteja disposto a defender visões retrógradas à custa da distorção da realidade.