Share |

Memórias: Louis Armstrong

No dia 6 de julho de 1971, faleceu Louis Armstrong, famoso cantor e músico norte-americano que conferiu ao jazz as suas grandes linhas e foi um ativista político e social. Por António José André.
Louis Daniel Armstrong, filho duma família muito pobre, nasceu no dia 4 de agosto de 1901, em Nova Orleães. Em criança, frequentou a Fisk School for Boys onde entrou em contato com a música.
Nessa altura. trabalhou como ardina e engraxador ambulante levando algum dinheiro para casa e começou a entrar em bares com música, perto da sua casa, para ouvir e ver os cantores.
Após sair da Fisk School, Armstrong formou um quarteto que tocava na rua para ganhar dinheiro. O cornetista, Bunk Johnson, ensinou-o a tocar de ouvido no Dago Tony's Tonk, em Nova Orleans.
Armstrong desenvolveu a sua maneira de tocar trompete na banda "New Orleans Home for Colored Waifs" (banda do Asilo de Nova Orleães para Negros Abandonados), para onde foi levado várias vezes por delinquência juvenil.
O professor Peter Davis providenciou-lhe educação musical. A banda Home tocou em toda a cidade de Nova Orleães e Amstrong, aos 13 anos, passou a chamar a atenção pelo modo como tocava trompete.
Aos 14 anos. saiu da Home e ganhou o seu primeiro emprego noturno no Henry Ponce's, onde Black Benny se tornou o seu protetor. Amstrong trabalhava numa fábrica de carvão durante o dia e tocava trompete à noite.
Tocou nas Brass Band Parades, aprendendo com Bunk Johnson, Buddy Petit, Kid Ori e com Joe "King" Oliver. Mais tarde, tocou com Fate Marable nos ‘riverboats’ de Nova Orleães, subindo e descendo o Mississipi.
Aos 20 anos, já conseguia ler partituras e começou a tocar prolongados solos de trompeta. Em 1922, Armstrong foi para Chicago, a convite de Joe "King" Oliver, para se juntar à "Creole Jazz Band".
A carreira foi crescendo e Amstrong fez as suas primeiras gravações nas Gennett e Okeh Labels, em 1923, incluindo alguns solos e breaks, na condição de segundo trompete na banda de Oliver.
Em 1924, desfez-se a “Creole Jazz Band” e Armstrong foi convidado para tocar com a Fletcher Henderson Orchestra (a banda afro-americana de maior sucesso na época), em Nova Iorque.
Armstrong gostou de Nova Iorque, mas considerou que a Henderson Orchestra era limitada e começou a fazer gravações com os famosos Hot Five e Hot Seven, produzindo grandes êxitos como "Potato Head Blues", "Muggles" e "West End Blues".
Armstrong também tocou na "Erskine Tate's Little Symphony", que compôs música para filmes mudos e teve concertos com versões de música clássica "jazzeadas" entre as quais "Madame Butterfly". Foi a banda de jazz mais famosa dos EUA.
Depois foi tocar no café Sunset, em Chicago, para Joe Glaser (um associado de Al Capone). Tocou na Carrol Dickerson Orchestra, com Earl Hines no piano, que se transformou na Louis Armstrong's Stompers.
Em 1929, Armstrong regressou a Nova Iorque, tocando na orquestra do musical Hot Chocolate. Trabalhou no Connie's Inn, onde granjeou sucesso com as gravações vocais, incluindo versões das músicas compostas pelo seu velho amigo Hoagy Carmichael.
A Depressão dos anos 30 foi violenta para o jazz. Muitos músicos deixaram de tocar nos clubes. Alguns deixaram de ser músicos. King Oliver fez algumas gravações sem êxito. Sidney Bechet tornou-se alfaiate e Kid Ory dedicou-se à criação de galinhas.
Em 1930, Armstrong deslocou-se para Los Angeles à procura de novas oportunidades. Tocou no New Cotton Club, com Lionel Hampton na percussão. Em 1931, apareceu no seu primeiro filme "Ex-Flame".
Em 1931, regressou a Chicago, tocando nas bandas de Guy Lombardo e Raphael Minsby. Depois, viajou por quase todos os estados e, em março de 1934, regressou a Nova Orleães e dali para a Europa.
Depois de voltar aos Estados Unidos, fixou residência no Queens (Nova Iorque), em 1943. Durante 30 anos, Armstrong tocou inúmeros solos e com inúmeras bandas, participando em vários filmes.
Em 1956, teve sucesso no filme "Alta Sociedade", ao lado de Frank Sinatra, Bing Crosby e Grace Kelly. Nessa altura, enfrentou críticas, por parte dos ativistas negros norte-americanos, pelo facto de ser pouco ativo no movimento dos direitos civis.
Em 1971, andou em digressão por todos os continentes. Armstrong fora muito influenciado por Martin Luther King no tipo de músicas que tocava e nas letras relacionadas com a discriminação racial.
Armstrong foi o símbolo do estilo Nova Orleães e precursor do scat - técnica de canto que consiste em cantar vocalizando sem palavras ou com palavras sem sentido e sílabas (p. ex.. "La dum ba dum pa") - usado por cantores de jazz que criaram o equivalente a um solo instrumental apenas usando a voz.