Share |

Lousã: Intervenção do BE no dia 25 de Abril

Senhor presidente da Assembleia Municipal,
Senhor presidente da Câmara,
Senhores deputados,
Senhores vereadores e presidentes das Juntas de Freguesia,
Demais autarcas,
Dirigentes associativos,
Responsáveis de instituições públicas e privadas,

Concidadãs e concidadãos,
Com a solenidade, a emoção, o respeito, o sentido de memória coletiva, de participação cívica e política que o momento exige, evocamos hoje a alvorada libertadora do 25 de Abril.
Celebramos a democracia, enquanto aspiração ao progresso, económico e cultural, mas acima de tudo social.
Nesta festa da liberdade, é nosso dever termos presente a dimensão enorme do sofrimento de muitos portugueses que acreditaram, lutaram e morreram pela liberdade, incluindo a liberdade de imprensa, o direito a informar e a ser informado.
Neste Dia da Liberdade, o Bloco de Esquerda repudia a tentativa do PS, PSD e CDS imporem aos órgãos de comunicação social um visto prévio para a cobertura noticiosa das campanhas eleitorais. A insensatez de mãos dadas com a censura autoritária!
Impõe-se que lembremos os precursores do moderno Estado de Direito Democrático, agora de novo ameaçado pela corrupção que mina os seus alicerces, por governos e partidos que traem a Pátria e exploram quem trabalha ou quer viver livre e com um mínimo de dignidade.
Evoquemos todos esses portugueses que deram o melhor de si, até o sangue e a vida, para pôr fim à ditadura fascista.
Entre nós, nunca é demais que nos curvemos perante a memória de lousanenses, por nascimento ou adoção, como os republicanos José Maria Cardoso e Pires de Carvalho.
Independentemente dos percursos políticos posteriores à sua prisão pela PIDE, em 1949, honremos também os antifascistas Fernando Rosa Neto, Jorge Feio dos Santos Babo e José Rodrigues, julgados num processo político que integrava vários operários têxteis da Castanheira de Pera, a que se junta o nome de outro lousanense, Armando Baptista, filho do comerciante Abel Baptista, que já tinha morrido quando a polícia política prendeu os restantes arguidos.
É ainda nosso dever não esquecer o operário Hermínio Martins, da atual rua de Coimbra, que passou longos anos no Campo da Morte Lenta, no Tarrafal, após ter integrado a Revolta dos Marinheiros, em 1936, tendo regressado a Portugal muito doente e morrido pouco depois.
Entre muitos outros, recordemos ainda, os seus camaradas marinheiros Adelino Mendes, que morreu em Cuba, em 1975, Jorge Antunes dos Santos, que também terá passado pelo Tarrafal, e Ismael Fernandes “Leiteiro”, que morreu naquela insurreição contra Salazar.
Dos vivos, na região, não esqueçamos nunca antifascistas como Manuel Louzã Henriques, António Arnaut e Kalidás Barreto.
Louzã é médico e guardião da cultura do povo que somos, enquanto Arnaut, advogado e antigo ministro, foi o principal obreiro do Serviço Nacional de Saúde, agora tão ameaçado, com o claro propósito de fazer da saúde um negócio obsceno na mão de privados!
António Arnaut e Kalidás Barreto foram deputados do PS na Assembleia Constituinte, eleita faz hoje precisamente 40 anos. Quantos de nós se lembram do longo caminho que andámos para aqui chegar?
E pensamos também, tantas vezes, que não foi para isto que caminhámos 48 anos em ditadura em demanda da paz, do pão, da habitação, da saúde e da educação. Da “liberdade a sério”, cantada por Sérgio Godinho.
Estas e muitas outras interrogações assaltam a consciência de muitos de nós sempre que, ano após ano, celebramos a Revolução dos Cravos.
Também a União Europeia, que devia ser dos cidadãos, solidária com outros povos e com os próprios países-membros, empurra a Grécia, berço da democracia e da civilização ocidental, para um beco sem saída.
Milhares de imigrantes, que fogem da miséria e da guerra, são explorados por traficantes e continuam a morrer no Mediterrâneo, às portas da Terra Prometida.
Mas, 41 anos depois do derrube do fascismo, reflitamos também sobre a Lousã dos nossos dias, tendo presentes os três “dês” do Movimento das Forças Armadas: democratizar, descolonizar e desenvolver.
Vejamos a liberdade de expressão entre nós, a democracia participativa e os seus arremedos. Em suma, a democracia que temos e não temos.
Olhemos as novas colonizações locais, com o grande comércio a reduzir a escombros as pequenas lojas familiares, com apoio ativo e decisivo, nos últimos anos, da Câmara Municipal, que tem agora muita pena do comércio tradicional, fazendo lembrar o incendiário que chama os bombeiros depois de ver a floresta em chamas.
Por cá, estejamos ainda alerta para uma outra forma de colonização, agora incentivada pelos partidos do Governo, através da nova Lei dos Baldios, que visa especialmente a privatização e a sujeição dos baldios às regras do mercado, à lógica predadora do neoliberalismo que teima em empobrecer Portugal.
No nosso concelho e na Serra da Lousã, vejamos as movimentações que vão exatamente nesse sentido: entregar a privados, recorrendo a diversos expedientes, a fruição dos baldios que são do povo, afastando os compartes da sua gestão.
Vejamos o exemplo dececionante de Serpins, cuja Junta de Freguesia, com apoio da Câmara Municipal e a bênção do PS, já se antecipou ao Governo entregando a privados mais uma grande área de terreno para plantar castanheiros para comercialização de madeira! E, na Lousã, como estamos de desenvolvimento, o terceiro “dê” proclamado há 41 anos pelo MFA?
O fim da época áurea da construção em qualquer canto deixou na Lousã um rasto desolador no domínio social e na economia.
O desemprego e a pobreza atingiram níveis muito graves. A criminalidade e a insegurança de pessoas e bens também já são preocupantes, ao que não será estranho a errada e desordenada expansão urbanística.
Com uma gestão verdadeiramente integrada, envolvendo municípios, diferentes entidades públicas e privadas, a Serra da Lousã poderá criar centenas ou milhares de empregos em diferentes setores de atividade!
A Câmara da Lousã acaba de arrecadar um milhão e 200 mil euros pela venda do capital social do município na empresa que detém o parque eólico do Trevim.
O Bloco de Esquerda defende que essa receita deve ser aplicada, de forma transparente, num conjunto de ações concretas que possam melhorar a vida das populações e incentivar a criação de emprego, rejeitando a eventual tentação de aplicar esse dinheiro em iniciativas improdutivas, como propaganda ou festarolas. Como se de um lamentável saco azul se tratasse!
Num tempo de dificuldades para milhares de lousanenses, a Câmara editou mais um boletim municipal.
Para que serve este desperdício de dinheiro senão para a autopromoção do presidente e de alguns vereadores?
Ao mesmo tempo, por tudo e por nada, a autarquia insiste em pagar anúncios milionários em jornais de fora do concelho, discriminando a imprensa local.
Mas a Câmara não melhora as acessibilidades, para peões e viaturas, ao novo Centro de Saúde e à nova Escola, que decidiu implantar longe do núcleo urbano da vila.
E, nas ligações a Coimbra e resto do país, o Governo e a autarquia teimam em condenar as populações a um infinito sofrimento, continuando a privá-las do transporte ferroviário roubado em 2009.
O Ramal da Lousã foi encerrado pelo Governo de José Sócrates, com apoio da Câmara e do PS locais, que insistem num metro que nunca chegou em mais de 20 anos de promessas.
Viva o 25 de Abril!
Viva a Lousã!
Viva Portugal!