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Le Maitre

Quando vivi em Estrasburgo era associado do cinema Odyssée. A programação do Odyssée era preenchida por filmes de autor, ciclos temáticos, cinema por países e regiões e obras clássicas. Em suma, o Odyssée passava mais cinema português do que é habitual nas salas de cinema do nosso país.
“Le Maître” (O Mestre), era assim que o diretor do cinema Odyssée se referia a Manoel de Oliveira. O diretor fazia questão de apresentar na sua sala as estreias das obras do Mestre em França. Uma “première” de um Oliveira era sempre uma soirée especial, com a presença de atores, realizadores, críticos e associações de portugueses. Foi nessa altura que constatei a dimensão internacional da obra de Manoel de Oliveira.
Para além do seu talento de realizador, havia outra característica que apreciava em Manoel de Oliveira: a sua permanente capacidade de deslumbramento. Com 100 anos era um jovem que continuava a entusiasmar-se com o que extraía da literatura e que ousou integrar no seu cinema referências bem mais jovens, como Pedro Abrunhosa.
Numa cena de “Lisbon Story”, Wim Wenders filma um Oliveira divertido, imitando Charlot, espreitando como uma criança através do quadro definido pelos dois ângulos retos compostos pelo indicador e polegar das suas mãos. Foi uma boa e oportuna ideia os organizadores do Figueira Film Art terem pedido a Manoel Oliveira para apadrinhar a edição deste ano.