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Feira dos 7

Dia 7 de agosto de 2015 – distribuição do jornal gratuito do BE, em Coimbra. Primeira distribuição de propaganda em que participei. Este foi também o primeiro contacto marcadamente político que tive com pessoas externas ao BE e ao meu grupo social. A propaganda é necessária e só na passada sexta-feira o senti diretamente.
O pensamento recorrente que tinha, sempre que via campanhas eleitorais, era o daquilo não ser necessário porque, para além das promessas e mentiras que ouvimos e vemos, seria dever do cidadão informar-se sobre os manifestos eleitorais - as causas que movem os partidos. Sentia que era perfeitamente dispensável a quantidade imensa de folhetos informativos, brochuras, autocolantes, cartazes e outdoors. A minha opinião foi mudando aos poucos, mas tornou-se radical, quando distribuí este jornal na Feira dos 7.
Estávamos prontos a terminar para descansar um bocado do sol baixo, que nos atacou, quando um casal de comerciantes têxteis chamou por mim. Dirigi-me até eles e perguntaram-me o que andava a fazer com um maço de jornais debaixo de um braço e a dá-los a quem os quisesse receber, o que eram os jornais, para o que eram. Esforcei-me para não complicar a resposta e tentei ser o mais direto que consegui. Não houve apresentações, eu era um rapaz que distribuía jornais e eles eram comerciantes. O senhor perguntou-me: “Não achas que isso é inútil? Não há como sair do buraco.”
Respondi: “Enquanto houver quem acredite na mudança e lute por ela, é possível”. A senhora referiu-se ao ataque às pensões e que não podiam abandonar o comércio, por pouco mais de 300 euros, que ambos recebem da reforma. Isto chocou-me!
Mesmo não sabendo o nome daquelas pessoas com quem conversava, elas deixaram de ser anónimas para mim. O esforço de carregar e descarregar mercadoria, montar e desmontar bancas, trabalhar ao sol, ao vento e à chuva durante anos. E após esses anos não podem disfrutar da velhice, nem dos descontos à Segurança Social.
Acredito na mudança por não haver como aceitar o mau trato social já impregnado num estado de capitalização dos corpos.