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DIABETES

Em Portugal, como na generalidade dos países europeus, cerca de 10% da população tem diabetes. Um milhão de pessoas das quais pouco ou nada se fala regularmente. O silêncio sobre esta doença não está, contudo, relacionado com qualquer ausência de assunto. Há muito para falar e para denunciar, há muito a fazer, tal como, aliás, quando nos debruçamos sobre outras doenças que afectam também largas franjas da população.

A diabetes tem implicações na vida das pessoas afectadas assim como nas suas famílias. A boa notícia é que pode ser evitada na maioria dos casos e controlada na generalidade deles. A má notícia é que parece que os poderes instituídos não têm vontade nem de prevenir nem de controlar. Pelo contrário, nos últimos anos a austeridade afectou o acesso aos cuidados de saúde, porque os deteriorou, e recuou na capacidade de prevenção. Um exemplo claro é o da alimentação onde a pobreza, o desemprego, a precariedade forçam muitas pessoas a ter de comer pior.

Esta semana celebra-se o dia mundial da diabetes. Os dias mundiais servem para isto mesmo, para que se fale sobre os assuntos. Mas precisa de continuar-se em todos os dias que seguem. Metade dos países da União não têm planos nacionais de diabetes, em poucos se conhece verdadeiramente a incidência da doença, não se avança na prevenção e na educação para a saúde, reduzem-se os serviços de saúde e o acesso aos mesmos. A diabetes não é excepção, quanto mais desigual for o país onde se vive menos se consegue combater o alastramento e as consequências da doença, que é uma das principais responsáveis pelas causas de morte em Portugal. Não se fala da discriminação existente, não se investe o que se devia em investigação, reduzem-se os apoios às associações de doentes e de familiares que prestam serviço público nestes domínios. No dia mundial da diabetes seguramente todos dirão o quão empenhados estão no combate à epidemia, mas nos outros dias, nos dias de fazer as contas ao orçamento que se vai aplicar, nos dias de fazer as escolhas políticas no âmbito do Estado social, lá se vai o respeito pela doença e por quem vive com ela.

Na semana que agora termina, a Federação Internacional da Diabetes entregou um prémio pela melhor investigação neste domínio. Esse prémio foi ganho por uma investigadora portuguesa, Joana Gaspar. Numa altura em que cada vez mais é mais difícil ser-se investigador/a em Portugal, o prémio aqui chegou. Soube que a Joana era agora bolseira de pós-doutoramento. A Joana Gaspar, e muitos/as outros/as em Portugal, é uma investigadora de excelência para quem, à semelhança de tantos e tantas colegas, se reserva um vínculo precário e que depois logo se verá se tem como continuar ou não... A destruição da ciência e da investigação em Portugal é das facturas mais pesadas que já começamos a pagar e pagaremos durante anos. Li nos jornais do dia seguinte que a vencedora iria doar o prémio que recebeu à Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, instituição onde faz actualmente a sua investigação e que também sofreu pesados cortes por causa da austeridade. É só de mim ou tudo isto provoca mesmo um aperto no coração?