A Comissão Concelhia de Coimbra do Bloco de Esquerda, manifesta a sua preocupação pela intervenção de “limpeza” efetuada pela Câmara Municipal de Coimbra na margem direita do Rio Mondego (entre a Portela e a Praia fluvial do Rebolim).
O resultado da limpeza efetuada é visivelmente desastroso do ponto de vista da preservação ambiental, fruto ou de ação negligente ou de incompetência, que levou à destruição da cobertura arbórea e de uma extensa galeria ripícola, cuja importância é fundamental, entre outros aspetos, para o funcionamento dos ecossistemas fluviais, favorecendo a biodiversidade e protegendo as margens do Mondego contra a violência das cheias e a sua consequente erosão. A destruição sistemática de todo o coberto vegetal e a terraplanagem das terras deixou a descoberto uma extensa área de areia, inertes, e restos de madeira. A inevitabilidade do seu arrastamento para o leito do rio, com a chuva e vento, irá de novo contribuir para o assoreamento e sobrecarga daquele, junto à ponte-açude. Para além disso crescem os riscos de erosão a jusante de toda a margem direita até ao Parque Verde.
Causa-nos ainda preocupação e estranheza que as intenções por detrás do desmatamento desta zona não tenham sido explicitadas aos cidadãos e cidadãs do município. A eventual construção futura de equipamento desportivo dedicado ao golfe, apontado como motivo do crime ambiental cometido, negado pelo Presidente da CMC (mas confirmado pelo seu vice-Presidente!) consolida a opinião sobre a leviandade e falta de transparência com que os cidadãos da cidade se confrontam. A confirmar-se tal projeto, será necessário conduzir e divulgar estudo ambiental associado, estudar os possíveis impactos da manutenção do campo de golfe para a vegetação e biodiversidade local, ouvir os munícipes sobre a utilidade de tal projeto e entender se este seria para usufruto público ou privado.
As margens do rio, que todos prezamos, deverão ser parte integrante de uma “circular verde” que envolva a cidade, num contínuo com as áreas verdes já existentes e outras a desenvolver. A descarbonização e o combate às alterações climáticas a que a CMC não pode ficar alheia, não pode ser matéria de proclamadas intenções esboçadas em papel sem aplicação prática e concreta ou ações contraditórias desta natureza. No curto prazo, impõe-se com a celeridade necessária, a adequada reposição do coberto vegetal, arbustivo e arbóreo, a fim de mitigar os efeitos duma tão desastrada intervenção.
O BE estará presente e apoiará as iniciativas de cidadãos e coletivos locais promotores de ações tendentes à exigência de ação célere e enérgica de reparação do desastre ambiental provocado e insta a CMC a que proceda a um cabal esclarecimento público do(s) motivo(s) que levaram à ação destruidora da galeria ripícola que cobria grande extensão da margem direita do rio, e que foi muito para além da limpeza e erradicação de espécies infestantes.
O BE questionará o Ministério do Ambiente e o Governo em sede parlamentar, exigindo um inquérito rigoroso sobre uma ação que configura um crime ambiental e insurge-se contra o silêncio e desprezo pelos cidadãos de Coimbra.
Coimbra, 28 de março de 2021