Share |

Campos das traseiras

Nos anos 80, os principais bairros habitacionais estavam quase todos equipados de infraestruturas ligeiras de desporto, campos de basquete e polidesportivos (os ditos campos das traseiras) onde se praticavam modalidades olímpicas e desportos imaginários. A geração da explosão demográfica portuguesa ia para a rua e enchia estes espaços de corridas, de gritos e de brincadeiras.

Essa pujança demográfica já não existe. Como o João Vaz já referiu neste espaço, hoje há um receio quase irracional de deixar as crianças brincar na rua. Além do mais, os bairros habitacionais de outrora envelheceram e os bairros com mais crianças e jovens deslocaram-se para periferias menos bem equipadas, onde abundam espaços públicos mal concebidos, degradados e com parcas infraestruturas desportivas de rua (São Pedro e Tavarede, por exemplo).

A importância social desses espaços abrange várias vertentes. Permitem um convívio interclassista entre os jovens, esbatendo o preconceito e as fraturas sociais, promovem a saúde e o bem estar e, como esta cidade já o pôde testemunhar, permitem o aparecimento de desportistas de alto nível (já aqui escrevi sobre a Ticha e o Helder Seabra), dinamizando os clubes e associações desportivas, promovendo emprego e atividade económica local. Existem hoje equipamentos muitos mais simples, baratos e resistentes ao tempo, só falta é vontade política.

Puiblicado no Diário As Beiras - 18 de agosto de 2016