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21 SET: Iniciativa Distrital sobre a Ferrovia

O deputado do BE, José Manuel Pureza esteve, hoje, numa iniciativa da Comissão Coordenadora Distrital de Coimbra (CCDC do BE) sobre a Ferrovia. Também estiveram: Rui Curado Silva (candidato do BE à CM da Figueira da Foz), João Rui Mendes (candidato do BE à CM da Montemor-O-Velho), Manuela Nobre Rodrigues (candidata do BE à AM de Cantanhede) e José João Lucas (membro da CCDC do BE). 

"A Ferrovia é uma arma poderosa para combater as alterações climáticas", disse Rui Curado Silva. "O BE estará muito atento aos novos passos da elaboração e da discussão pública do Plano Ferroviário Nacional e quer ser interveniente ativo na sua concepção, programação e redação final." afirmou José João Lucas. 

 

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A FERROVIA DE QUE PRECISAMOS…

Acabámos de fazer a viagem por comboio desde Coimbra. Para chegarmos à Figueira da Foz, percorremos menos de quarenta quilómetros em cerca de uma hora e dez minutos, fazendo quase vinte paragens. Fizemos uma média horária de menos de 35 km/hora. Estamos no ano 21 do século XXI. Não consideramos aceitável esta paragem no tempo. A ferrovia tem que ser requalificada, as velocidades têm que ser aumentadas, a qualidade das carruagens tem que ser melhorada, enfim, a viagem em comboio tem que ser mais vantajosa – em rapidez, em segurança, em comodidade e em preço – do que o automóvel, designadamente nas viagens pendulares diárias ou semanais entre estas duas cidades. Décadas de desleixo neste setor têm que ser recuperadas, já que a necessidade do alívio da pressão das emissões de carbono sobre o ambiente a isso obriga.

Foi recentemente anunciada a duplicação da linha entre Coimbra e Figueira da Foz. Não foi explicado mais nada a não ser que essa ideia se insere no processo de transferência da sua tutela para a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM-RC). Ficámos, por exemplo, sem saber se já existe projeto para tal e se a duplicação se fará em toda a extensão desta ligação ou somente no troço entre Alfarelos e a Figueira da Foz ou ainda se é possível introduzir algumas melhorias designadamente na velocidade média desta viagem. Precisamos também que a CP nos explique por razão já não há comboios diretos entre Coimbra e Figueira da Foz, sem paragens intermédias ou somente com duas ou três.

Também não sabemos o que de novo nos poderá trazer o Plano Ferroviário Nacional (PFN), cuja redação está prevista para este período de julho a outubro e cujas apresentação, discussão e consulta pública estão agendadas para o último trimestre deste ano de 2021.

Queremos antecipar este debate, articulando, desde já, as preconizadas melhorias desta linha Coimbra-Figueira da Foz com a prevista Linha de Alta Velocidade (LAV) entre Lisboa e Porto que se cruzará com esta e que, segundo o ante-projeto terá uma estação em Coimbra. É fácil de entender que essa estação da LAV de Coimbra, mais próxima ou mais distante da atual Coimbra B, terá que ser articulada com esta estação, e, a partir daqui, com a Linha do Norte e ainda, na Pampilhosa, com a linha da Beira Alta que ligará o centro do país à Espanha e ao resto da Europa. Também deve ser considerada a ligação dessa LAV com esta linha Coimbra-Figueira da Foz, atual ou duplicada. Pensar ou prever o contrário seria imaginar uma Linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto, desarticulada do resto do país que iria vê-la passar ao longe. Importa ainda colocar uma outra pergunta: na agenda do PFN, esta Linha de Alta Velocidade servirá somente para transporte de passageiros ou também de mercadorias?

Finalmente, importa não perder de vista que a Figueira da Foz tem um porto que, embora secundário, tem uma capacidade e potencialidades muito relevantes e que estará em ótimas condições para servir todo o interior centro do país e sobretudo grande parte do território do centro de Espanha. A ligação transfronteiriça do mar à Espanha, através da Linha da Beira Alta, que, noutros tempos, começava na Figueira da Foz, perdeu a sua operacionalidade quando o troço da Figueira da Foz à Pampilhosa por Cantanhede foi desativado. Ganhou o transporte rodoviário, perdeu o ambiente. Algumas indústrias desta região também perderam. Teríamos uma situação muito mais favorável às populações e ao transporte de mercadorias, se, em vez de ser encerrada, esta linha tivesse sido eletrificada e reabilitada, processo que não só chegou a estar previsto, como foi iniciado. No seu lugar está o vazio… E não é uma eventual ciclovia que silenciará este prejuízo.

Em conclusão, o nosso país e a região centro em particular precisam não só duma nova rede ferroviária nacional coerente e projetada num futuro mais sustentável, como também de ligações eficientes e amigas do ambiente que atravessem o seu território e que a ponham em contacto com o resto do país e com toda a Europa. Não ter em consideração estes aspetos intrarregional e interregional é colocar em dúvida a inserção da Região de Coimbra e da Região Centro na rede ferroviária nacional e nas redes ferroviárias transeuropeias, que devem trazer um enorme contributo para a descarbonização dos transportes e para uma vida mais saudável de toda a população.

O Bloco de Esquerda estará muito atento aos novos passos da elaboração e da discussão pública do Plano Ferroviário Nacional e quer ser interveniente ativo na sua conceção, programação e redação final.

Figueira da Foz, 21 de setembro de 2021

A Comissão Coordenadora Distrital de Coimbra do Bloco de Esquerda