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Receber mal os turistas

Recentemente Portugal tem tido um afluxo de turistas inacreditável, que invadem, no bom sentido da palavra, sobretudo Lisboa, Porto, o litoral e os principais lugares classificados pela UNESCO.

Porém, não foi por bons motivos que se desencadeou este afluxo de turistas, não foi mérito nosso. Os atentados perpetrados contra turistas na África do Norte, em particular no Magrebe e no Egito, afastaram toda uma massa de turismo daquela região para novos destinos.

Foi nesse contexto que os países mais ricos da Europa descobriram que no sul do continente havia um país simpático, extremamente barato, seguro, com um clima agradável sem ser demasiado quente, com praias fantásticas, com uma história e monumentos interessantes e com uma gastronomia variada, baseada em excelentes produtos.

Esta é uma fonte de receitas extraordinárias, para Estado e para privados, que nos caiu do céu, sem que realmente tenhamos feito grande coisa para que aconteça. Tem apenas um inconveniente, a especulação associada ao alojamento, principalmente ao alojamento associado a plataformas digitais, fez disparar o preço da habitação, do aluguer e fez diminuir o número de quartos disponíveis nas principais cidades.

Apesar de a nossa oferta turística ter dado um salto qualitativo nos últimos anos, continuamos a oferecer aos turistas pobres serviços em vários domínios para que possamos ter orgulho do acolhimento que disponibilizamos.

O principal problema são os transportes.

Não obstante a possibilidade de aquisição de títulos de transporte através de plataformas modernas, o material físico de aquisição de bilhetes, as composições de transporte ferroviário e os barcos da Transtejo continuam no seu processo de degradação contínuo.

É triste constatar frequentemente extensíssimas filas de turistas para comprar bilhetes do metro à saída do aeroporto. É uma espécie de boas-vindas ao contrário.

O aeroporto sem espaço para estacionar aeronaves ficou encalhado no debate entre a Ota e as alternativas comprometidas pelos fluxos de aves migratórias.

Sejamos francos, ainda não foi apresentada nenhuma opção de jeito.

Na restauração continuo a constatar o xico-espertismo, continua a impingir-se entradas sem perguntar ao turista se as quer, a oferecer vinho zurrapa e a dar golpadas na conta.

A comida “do pacote” vendida por fresca (arrozes de pato, bacalhaus com natas, etc., dos pacotes da Makro), é mato.

O pior é que muitos julgam que os turistas não topam, não sabem, “para eles é tudo o mesmo”. Mas já não é bem assim. A sujidade urbana ou as zonas das cidades onde o carro é rei são outros falhas que não escapam a quem nos visita.

Até quando os turistas vão continuar a aturar estas falhas? A instabilidade no Magrebe não durará para sempre e não nos estamos a preparar para fixar turistas.

Publicado no LX24 - 22 de janeiro de 2019