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Mais participação

Não temos coletividades a mais no concelho da Figueira, o que existe é uma baixa taxa de participação das populações nas iniciativas e nas atividades propostas pelas variadas coletividades. A baixa participação resulta de vários fatores. Cada coletividade é um caso, mas há problemas que tendem a ser comuns. Muitas destas associações têm uma dificuldade na renovação das estruturas diretivas cuja média etária é elevada, particularmente em atrair associados mais jovens para dirigir e coordenar as atividades. Esta dificuldade de renovação tem ela própria várias causas. Frequentemente, as principais atividades estão datadas, já não correspondem a orgânicas sociais em vigor no século XXI. Por exemplo, já aqui opinei que as marchas populares não são tão populares entre os jovens e, mais importante do que ser popular ou não, hoje os jovens já não vão a correr ao final do dia até ao salão do grupo de rancho para encontrar e confraternizar com os amigos, como no tempo da Dona Rosa e do Evaristo do “Pátio das Cantigas”. Essa dinâmica acabou. E não reconhecer que acabou, encalhando no tempo, não percebendo o que move hoje os jovens, é um erro. Outro problema que afasta os jovens é a vetustez e a falta de condições dos espaços das coletividades. O centralismo da cidade da Figueira no contexto do concelho e o favoritismo no financiamento de coletividades, antes de o ex-vereador António Tavares ter estabelecido critérios racionais, contribuíram nalguma medida para o degradar dos equipamentos.
De um modo geral, há falta de cultura associativa em Portugal, falta de bairrismo e, mesmo entre associados, aqueles que pagam quotas a tempo e horas são uma minoria. Não obstante, a generalidade das coletividades do nosso concelho providencia um trabalho valoroso, substituem-se ao estado em imensas tarefas essenciais, que vão da cultura ao desporto, passando pelo bem-estar de pessoas, da defesa da natureza, do património e dos animais. Pena que nem sempre esse esforço seja compensado pela adesão dos munícipes e que não seja realizado nas melhores condições materiais e humanas.
Publicado no "Diário As Beiras" - 9 de abril de 2020