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VIA CENTRAL: UM DANO ENORME E IRREVERSÍVEL

No âmbito da campanha eleitoral autárquica, Manuel Machado tem presenteado Coimbra com uma série de intervenções casuísticas e más. Estas não obedecem a uma estratégia para o concelho, mas à lógica do mal menor. O executivo camarário deixou Coimbra chegar a um estado de decadência tal que qualquer intervenção surge como “menos má” do que a condição atual. Aquilo que, numa cidade que aspira à modernidade, seria inaceitável parece ter-se tornado a regra. É imprescindível, porém, colocar limites a esta lógica que conduzirá a danos irreversíveis. Certas obras menos más terão, a longo prazo, consequências que a cidade não poderá resolver.

Um exemplo é a chamada Via Central, cuja consignação de obra mereceu – pasme-se – visita de secretário de Estado. Pouco tempo depois da aprovação do projeto, em fevereiro de 2016, o Movimento Cidadãos por Coimbra alertou para a sua gravidade, reclamando um referendo local sobre o assunto, apoiado por centenas de assinaturas de cidadãos e cidadãs. Reprovado o referendo na Assembleia Municipal, o projeto prosseguiu: o esventramento do tecido medieval da cidade, junto à área classificada pela Unesco, por uma via destinada ao trânsito rodoviário, e sem a reabilitação de um só edifício! Algo nunca visto numa cidade europeia, contrário até ao regulamento de intervenção urbanística que acompanhou a candidatura à UNESCO. O que o secretário de Estado “inaugurou” é uma mera intervenção no pavimento, colocação de infraestruturas básicas e de iluminação. Os edifícios carentes de reabilitação permanecerão em estado de derrocada, e as suas empenas continuarão visíveis, sendo este problema resolvido pela absurda colocação de uma rede! O projeto prevê ainda a demolição dos edifícios fronteiros à Câmara Municipal, que Machado reservou estrategicamente para uma fase pós-eleitoral, não vão os/as eleitores/as dar-se conta do que realmente se prepara. Estes edifícios estão hoje cobertos por lonas que remetem enganosamente para um projeto de requalificação da autoria do arquiteto Gonçalo Byrne, ao qual a intervenção agora consignada não corresponde de todo. As lonas, aliás, foram colocadas por ocasião do alerta lançado pelo CpC, cuja razão de ser Machado conhece bem e tentou ocultar.

Byrne propunha um projeto real de intervenção física e um plano integrado de desenvolvimento do local. As poucas demolições que previa eram apenas as absolutamente necessárias para o metro ligeiro de superfície, em via dedicada. Preservava, regenerava os edifícios e requalificava o tecido urbano histórico. Ao invés disso, ficaremos com uma estrada em pleno centro histórico e continuaremos a ver a cidade a cair. O “menos mau” custa caro a Coimbra. Este Presidente, efetivamente mau, custa muito mais.